Fabrício Saad, professor da ESPM, explica por que o capital humano ganha cada vez mais importância para gerar soluções inovadoras e impactos sociais positivos
Apesar da tecnologia e da automação, que vêm eliminando profissões mais técnicas, táticas e/ou repetitivas, a economia criativa é uma área em que o capital humano (ou seja, o conhecimento) é importante para apresentar soluções inovadoras e proporcionar impactos sociais positivos a partir da imaginação, da criatividade e de análises subjetivas.
O conhecimento, portanto, faz da criatividade a força motriz que cria soluções e negócios lucrativos. Apesar de intangível, essa é a matéria-prima de base da inovação. “No entanto, esse modelo se diferencia do tradicional pelo propósito de ir além do lucro”, explica Fabrício Saad, professor da ESPM para os temas Digital Marketing, Innovation e Economia Criativa. “Ela tem um objetivo muito mais amplo de beneficiar a sociedade como um todo e de maneira cada vez mais sustentável.”
Segundo dados do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em 2020 o PIB Criativo brasileiro movimentou R$ 217,4 bilhões nas mais diversas atividades (veja o infográfico) e empregou 935 mil pessoas.
Expansão da economia criativa
Embora a economia criativa tenha sido vista como um “nicho de mercado” por sua presença em setores de artes, entretenimento, cultura, artesanato, consumo, design, tecnologia e mídias, é um segmento importante em qualquer cadeia produtiva. Tanto é que outras indústrias entenderam ser possível “ganhar dinheiro” com a criatividade e os organismos públicos a partir de projetos como redes e cidades criativas. “Hoje abrange não só as indústrias criativas, mas também as tradicionalmente ‘não criativas’, mas que se beneficiam desse movimento, além de instituições, cidades, redes, comunidades”, acrescenta Saad.
Em outras palavras, a economia criativa trabalha com novos modelos de negócio para implantar soluções dentro do modelo capitalista, mirando a rentabilidade e o lucro social positivo. “A economia criativa se insere nesse contexto ao atuar em pilares como o digital, com a ideia de economia cíclica, de reaproveitamento, de reutilização, de upcycling, de retroalimentar todo o sistema, com preocupações de sustentabilidade, de inclusão e de responsabilidade social.”
Segundo Saad, esses negócios serão os mais promissores – e o único caminho para qualquer empresa. “Quem não se atentar para essa nova realidade dificilmente sobreviverá agindo de maneira não sustentável. Muitas dessas companhias já começam a ser ‘punidas’, especialmente pelo conhecimento e empoderamento do consumidor e pelo papel desempenhado pelas redes e mídias sociais que cobram uma nova postura, muito mais ativa.”
Economia criativa beneficia todas as áreas
O especialista explica que não basta optar por uma profissão relacionada com a economia criativa, porque trata-se de um estilo de vida. “O lugar onde se trabalha tem a ver com mindset, essa sintonia com algum propósito, ou seja, aquela ‘cola’ que faz a economia criativa realmente dar certo”, comenta, avisando que muita gente das novas gerações está alinhada com esse tema. São pessoas com uma preocupação natural sobre as questões relacionadas à sustentabilidade e a trabalhos que ajudem a promover as mudanças necessárias para a sociedade.
“São escolhas que fazem sentido para elas, seja porque vão resolver um problema da humanidade, tornar a vida das pessoas mais fácil, porque é verdadeiro. Além de dar lucro — afinal, as contas precisam ser pagas –, essa ordem é inversa das quais as empresas estavam acostumadas. E as empresas já priorizam pessoas com essa visão para ajudar nessa liderança”, revela o professor.
A economia criativa pode ser trabalhada em diversas áreas, seja nas profissões criativas por natureza, seja nos segmentos de tecnologia e de políticas públicas. “Tem espaço para todos nesse novo mundo, especialmente porque está em crescimento e precisa de profissionais com várias visões e habilidades.”
Os muitos caminhos do design
Uma das áreas de maior destaque é o design, já que sem ele nada se produz. Isso acontece nos segmentos em que o design faz parte do seu DNA, como cinema, moda e decoração, entre outras, e também naqueles que se reinventam com o objetivo de proporcionar novas experiências como o upcycling, uma das bases mais importantes da economia criativa. “A indústria da moda faz isso muito bem dentro do modelo capitalista”, exemplifica. “Ela ganha com esse produto inovador — talvez mais até do que com uma coleção normal —, utiliza um resíduo como matéria-prima e que antigamente talvez fosse descartado no meio ambiente.”
Segmentos tradicionais, como cooperativas de reciclagem e órgãos governamentais, também podem se beneficiar de projetos. O especialista cita o caso da cidade de São Paulo, que em 2015 instalava chips em bueiros para identificar os locais obstruídos por lixo que poderiam causar alagamentos. “Para quem deseja trabalhar na esfera pública, os governos devem caminhar cada vez mais nesse sentido, seja por necessidade ou pressão social.”