Professor de Relações Internacionais explica a importância do conceito e como ele contribui para resolver conflitos e problemas globais
Soft power é um conceito muito importante atualmente nas relações internacionais, principalmente depois do final da Guerra Fria. “Em vez da força e do poder coercitivo para transmitir a ideia de poderio, a influência dos países sobre outros e sobre o mundo passou a ser feita por outros elementos, mais empáticos, como a tecnologia, as artes e a cultura”, observa Alexandre Ratsuo Uehara, coordenador da graduação em Relações Internacionais da ESPM.
Até o início dos anos 1990, as disputas eram norteadas pelo hard power — isto é, pela quantidade de armas e ogivas nucleares, por exemplo, que um país possuía. O especialista explica que, nessa época, o professor norte-americano Joseph Nye começou a perceber uma diminuição da importância das armas e que a influência e integração de um país com outros sem o uso do poder coercitivo e por meio de outros recursos, como a cultura, era mais importante.
Com o final da bipolaridade que existia entre Estados Unidos e a antiga União Soviética, esses países passaram a ser questionados sobre seu poder de influência no mundo — enquanto outros, como Alemanha e Japão (derrotados na Segunda Guerra Mundial), buscaram outros caminhos para participar das relações internacionais. “Criou-se, então, uma expectativa de que o mundo caminharia para ser mais pacífico e daí a valorização do soft power”, acrescenta Uehara.
O Japão, por exemplo, durante os anos 1980 e 1990, era muito influente no mundo das relações internacionais sem o uso de armas, mas pelo uso da tecnologia, da cultura (música, desenhos animados e mangá etc.), como elementos de frente.
A importância do soft power
Além disso, o mundo começou a assistir a uma interdependência entre os países — ainda que Nye coloque a economia como um elemento de hard power. A tecnologia, por exemplo, resulta do crescimento econômico e faz com que haja uma alta admiração, uma nova percepção de influência, como acontece com Japão, Coreia e Taiwan nessa área. “Então, o soft power também é quando uma nação ou a população de um lugar passa a olhar com bons olhos o que é feito em um país estrangeiro. É um valor intangível que não se consegue medir, como a influência da cultura, da música ou de uma obra de arte”, esclarece o coordenador.
No entanto, na segunda década deste século, novos países ganharam relevância no cenário internacional, aumentando a disputa de interesses. Isso levou a outras questões geopolíticas e a novas políticas de reconhecimento internacional.
Entre os exemplos, a busca de um papel de destaque pela Rússia, a Guerra da Ucrânia e o investimento da Coreia do Norte em hard power, com testes e mísseis nucleares, que vêm chamando a atenção do mundo. Simultaneamente, muitos países também assistem à ascensão de políticos com ideais nacionalistas e bandeiras subjetivas, cujos discursos defendem que os problemas internos têm origem “externa”, como acontece entre as Coreias do Norte e do “Sul.
“Em momentos de tensões e conflitos, o hard power ganha muito mais valor porque é como os políticos vão, de fato, expressar o seu poder. Nesses casos, o soft power novamente se enfraquece, mas não perde sua importância em termos de relações internacionais para evitar que esses conflitos aconteçam”, acrescenta Uehara.
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Questões globais
Porém, quando algum país não respeita as organizações internacionais há o enfraquecimento das instituições que zelam pelas relações entre países, criando dificuldades para um mundo mais harmonioso. “Por isso, é importante o papel de uma instituição multilateral forte que, de fato, consiga ao menos administrar e resolver as diferenças entre as nações”, avalia o especialista.
O professor Uehara também explica que o ‘envelhecimento’ dessas instituições, onde não há renovação de políticas, abre espaço para as contestações dos países emergentes, que são importantes em termos econômicos, mas sem representatividade ou espaços de poder.
“Quando se começa a adotar ações unilaterais sem respeitar as regras multilaterais há ainda o risco de enfraquecimentos dos canais de comunicação e de outras políticas de isolamento, com reflexos negativos não só para as relações comerciais, mas para as de paz”, completa. “Essa perda dos canais de comunicação acarreta na perda do poder de negociação, no aumento das desconfianças mútuas e no investimento em armas para defesa própria, tornando o mundo muito mais inseguro.”
Além disso, muitos problemas também deixaram de ser solucionáveis no âmbito nacional — como o da segurança, o do terrorismo e o do meio ambiente. Por isso, o soft power é importante para que se encontrem saídas resultantes de uma cooperação global, da confiança entre os países e de alianças e acordos internacionais para evitar que conflitos aconteçam.