A oitava edição do Seminário Internacional de Jornalismo da ESPM com a Columbia University Journalism School trouxe reflexões sobre nuances do jornalismo sobre o meio ambiente
O 8º Seminário Internacional de Jornalismo da ESPM, realizado em parceria com a Columbia University Journalism School, trouxe professores e convidados de diferentes partes do mundo para discutir o tema O Jornalismo é Ambiental: Responsabilidade e Informação no Combate às Mudanças Climáticas.
O evento teve início com as boas-vindas de José Roberto Whitaker Penteado, ex-presidente da ESPM e editor da Revista de Jornalismo ESPM – Edição Brasileira da Columbia Journalism Review, e Elena Cabral, professora e assistente do reitor nos Programas Acadêmicos, Estudantis e Internacionais da Escola de Jornalismo de Columbia.
Cobertura da crise climática
O jornalista britânico Jonathan Watts, correspondente de meio ambiente no The Guardian, declarou a relevância da cobertura jornalística ambiental: “A crise climática não é só a história da nossa época, é a grande questão da história da humanidade”.
Watts participou do primeiro debate do seminário, Os Desafios do Jornalismo Frente à Crise Climática Global. Mediada pelo jornalista e professor de jornalismo da ESPM, Ricardo Gandour, a discussão do evento contou ainda com a presença da jornalista chilena Muriel Alarcón, professora da Pontifícia Universidade Católica do Chile, com mestrado em Ciências, Saúde e Jornalismo Ambiental pela Columbia University Journalism School.
Alarcón ressaltou a importância de trazer diferentes perspectivas em suas coberturas, incluindo vozes locais. Ela usou sua língua nativa, o espanhol, para se comunicar com comunidades latinas fora da América Latina.
“Eu percebi que a minha identidade, minha história cultural, meu sotaque e até meu rosto podiam ser competências para me conectar mais profundamente às minhas fontes”, disse a jornalista. “Gosto de dizer que essa é uma super competência ao cobrir mudanças climáticas, principalmente quando eu tenho como objetivo mostrar as vozes do sul global nas minhas reportagens.”
Essa lógica também se aplica aos especialistas. A jornalista compartilhou que, após a pandemia, estipulou uma meta para si mesma: incluir mais cientistas em suas reportagens. “Principalmente os que estão combatendo as mudanças climáticas e interagindo com comunidades para que possam, por meio de suas descobertas, ensinar formas de salvar o planeta.”
“Acredito que hoje é o papel do jornalista fazer essa ponte entre o mundo científico e as pessoas comuns. Isso também pode a levar a um equilíbrio, porque a narrativa hoje está muito polarizada na cobertura dessas histórias”, refletiu Alarcón. “O jornalismo não é apenas documentar fatos, mas também construir confiança com as fontes, como cientistas e comunidades, ou seja, também é uma competência cultural.”
A questão mais importante
Fundador do Rainforest Journalism Fund e cofundador do Sumaúma, Jonathan Watts compartilhou sua experiência na cobertura sobre o meio ambiente. “Estou no The Guardian há bastante tempo, mas tem algumas coisas que venho tentando fazer. A primeira é desafiar a ideia de que o meio ambiente é só mais um tópico”, afirmou. “Todos os veículos jornalísticos deveriam pensar sobre a crise climática, não só os especialistas.”
Para Watts, é importante que o jornalista se desafie e rompa com o que considera um padrão ou comum. “Em vez de pensar, por exemplo, que nosso futuro depende da política ou da economia. Precisamos dos dois. Mas a gente precisa de vida também.” A cobertura climática, segundo o jornalista, deveria considerar outros aspectos além da ciência, como a justiça social e a política ambiental.
“A gente precisa do meio ambiente”, declarou Watts. Atualmente, ele vive na floresta amazônica com sua esposa, que também é jornalista. “Ao perceber isso, para mim, parece que o lugar mais importante do mundo não é São Paulo, Cidade do México, Nova York, Paris, Londres ou Pequim. Não. São lugares como o Pantanal e a Amazônia, centros de vida onde há uma batalha muito grande da crise climática.”
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