Especialistas explicam como se faz a pesquisa de intenção de voto e porque essa análise é importante, inclusive para e o mercado
As pesquisas eleitorais não servem apenas para mostrar ao eleitor quem está na frente ou na lanterna da disputa. Também orientam o mercado quanto ao que pode acontecer se um ou outro candidato ganhar, e fornecem dados que auxiliam o futuro governo. Esses pontos foram discutidos no episódio 77 do Lifelong Cast, o podcast do profissional em constante movimento, um programa da ESPM para você se preparar para o futuro do trabalho e dos negócios, que teve como convidados Denilde Oliveira Holzhacker diretora acadêmica de Pesquisa e Pós-graduação Strito Sensu da ESPM, e Giuliano Salvarani, consultor, estrategista político e professor do Master em Comunicação Política e Sociedade da ESPM. Confira os destaques da conversa:
Para que servem as pesquisas eleitorais
Além de auxiliar a população a tomar sua decisão, a pesquisa também auxilia os estrategistas de campanha, já que mensura quais são os temas relevantes para aquela eleição, como o candidato está performando junto ao eleitorado e o clima da campanha, por exemplo.
Essa coleta de informações de intenção de voto é um recurso muito importante para os políticos e as empresas, principalmente as do setor financeiro, porque a pesquisa eleitoral passou a ser um instrumento de decisão de avaliação de riscos futuros.
Dependendo de quem for eleito, é possível pensar em um cenário do que pode vir a ser a partir das propostas de governo. “São várias as perspectivas, incluindo o fato de que a pesquisa política também é um instrumento de manipulação, que pode tentar influenciar negativamente o processo eleitoral”, comentou Denilde.
Quais são os tipos de pesquisa
Salvarani explicou que entre os vários tipos de pesquisa, a mais comum é a quantitativa, que aponta a posição dos candidatos – quem está na frente e atrás. Já as qualitativas avaliam o humor do eleitorado, ou seja, o que as pessoas estão pensando e quais são as opiniões delas sobre os principais assuntos do cotidiano.
Algumas enquetes vão ser mais públicas, estilo survey, onde se entrevista uma amostra representativa da população que está sendo pesquisada. “A maior parte das pesquisas feitas hoje no Brasil no cenário eleitoral não é divulgada. São pesquisas de consumo interno”, contou Salvarani.
Como se faz uma pesquisa eleitoral
Tudo começa pela definição da amostra de quem vai ser entrevistado, a partir de critérios demográficos e de renda. Como se trata de estatística, esses critérios são importantes porque o grupo entrevistado precisa representar o que seria a população total. É por isso que a forma como é definida a amostra é o ponto mais importante da enquete.
O segundo item de grandeza é o questionário. Pode ser presencial, que está caindo em desuso; pela internet, a pessoa recebe um link ou entra em uma plataforma e responde; ou misto, unindo as duas modalidades. Na coleta, existe a abordagem em fluxo, que é quando o entrevistador aborda a pessoa na rua, em um ponto de ônibus ou em sua casa, a exemplo da pesquisa do censo.
Com as respostas em mãos, a pesquisa entra na fase de análise e isso está relacionado à maneira como os resultados serão divulgados. Significa fornecer apenas os números, ou fazer cruzamentos de dados e análises estatísticas, que normalmente não são divulgadas para o público, mas que são importantes porque também vão fornecer informações sobre as diferenças de perfil do eleitor do nordeste e do que reside no sudeste do Brasil.
Por que as pesquisas parecem estar menos precisas
Os especialistas apontaram uma série de motivos que podem ter levado os resultados finais de eleições a serem tão diferentes dos projetados pelas pesquisas nos últimos pleitos. Um deles é a mudança populacional e geracional, que influencia as formas de coleta. Antes os entrevistadores iam de casa em casa e eram atendidos. Hoje há impedimentos, como as pessoas atenderem o pesquisador, mas não responderem. A coleta online ainda não é um instrumento que fornece uma capacidade de projeção de resultados, e isso gera muitos problemas. Para complicar, o censo no Brasil estava muito defasado e quando se definia a amostragem da população ela já estava defasada também.
“Mas é um problema mundial. Os americanos também estão discutindo isso [a divergência entre as pesquisas e os resultados], a gente viu isso na Europa e a grande hipótese é uma mudança no comportamento das pessoas”, afirmou Denilde. Os eleitores respondem menos as pesquisas e muitos respondem o que acham que as pessoas querem ouvir. “Então você tem um grande dilema e uma grande pergunta tem sido feita: se esse instrumento que foi criado lá nos anos 50, não está na hora da gente pensar em outros modelos?”.
Pesquisa é um dos mercados mais tradicionais que existem, porque, apesar de toda evolução tecnológica, ainda se usa um método criado nos anos 1950. Observa-se quem está na frente e analisam-se as variáveis demográficas. Existem empresas de coletas pela internet, alguns experimentos voltados para a inteligência artificial têm sido feitos, mas ainda são incipientes. “Ainda temos muito que caminhar, pelo menos a meu ver, do ponto de vista tecnológico para as pesquisas de opinião” disse Denilde.